sábado, 17 de abril de 2010

#Fotoleg:Angels with dirty faces* #

Uma ao baixo, uma ao alto. Korda disparou sem imaginar que acabara de capturar a imortalidade durante aquela ocasião fúnebre. Che, de rosto impassível, fitando o horizonte, dificilmente visionaria a Cuba em que se encontram hoje presos aqueles que julgou libertar. Talvez, mais tarde, o editor Giangiacomo Feltrinelli acreditasse que aquele rosto, prestes a desaparecer para sempre na selva boliviana, pudesse combinar, impresso a uma cor, com os dos jovens que encheram as ruas de Paris, em Maio de 1968. Mas ninguém conseguiria traçar, há 50 anos, quando foi tirada, o percurso que levou esta imagem a transformar-se num ícone, em tudo e coisa nenhuma, em símbolo de revolução ou decoração de boutique. Quando fechamos os olhos o que vemos? Jim Morrison de AK47? Jesus Cristo de vermelho? O esclerosado avozinho Fidel? Sonhos de juventude? Revoluções traídas? Nike? PC? Che? Guevara? Eu confesso que se não fosse o Paulo Pimenta já não teria visto mesmo nada.
David Pontes/Agência Lusa
Porto,17 Abril 2010
Foto:Paulo Pimenta
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