sexta-feira, 24 de junho de 2011

"Luana é capa de revista e isso já mudou a sua vida"
Porto, 23 JUNHO 2011
Fotos:Paulo Pimenta
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Luana é capa de revista e isso já mudou a vida dela

José António Pinto é assistente social. Paulo Pimenta é fotojornalista. Carla Santos e Eduardo Machado são jovens, desempregados, beneficiários do RSI. Luana tem cinco anos, é filha de Carla e Eduardo.
Esta é uma história a lutar contra o estigma, a tentar afastar etiquetas, daquelas que se colam às coisas, aos lugares, às pessoas. No labirinto que se percorre para chegar a casa de Luana, lá nas fronteiras do Porto esquecido que poucos ousam ver, quase nada entra. Saem relações sociais pouco moldáveis, apesar da necessidade que muitos sentem em “criar diferenças para afirmar as suas qualidades”, explica o sociólogo José António Pinto. Como se combate o malfadado estigma que se gruda à pobreza? Com “estratégias de distinção social”, responde o sociólogo. “Com a fotografia”, pensou Paulo Pimenta.
Luana tem as unhas pintadas e uma trança no cabelo impecavelmente arranjado. É vaidosa. Não sabe o que significa a palavra estigma, não sabe o que é estatuto social, leva a primeira sílaba da palavra ao dizer fotografia (“Gosto muito de tirar tografias”). Sabe que fica “muito feliz” quando se vê nos catálogos de moda que agora faz, nos outdoors da auto-estrada e na televisão, quando os colegas na escola a vêem. E isso chega.
A ideia do assistente social da junta de freguesia de Campanha, no Porto, era simples: “Dar à Luana uma oportunidade para brilhar”. E foi aqui que entrou Paulo Pimenta: fez a primeira sessão fotográfica de Luana (e ela já com “postura de manequim profissional”), a que lhe abriu caminho para os catálogos de moda que agora faz – para a Modalfa, para o Continente, para a Zippy. Acredita que, às vezes, “com um simples acto pode mudar-se um percurso de vida ou pelo menos um momento”. Um momento chegaria.
A mãe nunca pensou chegar aqui: “Nem sabia o que fazer para que isto fosse possível”. Anda orgulhosa da filha, acredita que ela vai ser alguém. Luana não fala em ser modelo, quer ser “mãe e professora”. E para Carla tanto faz, desde que ela faça mais do que aquilo que os pais puderam fazer. No final do ano os 400 euros do RSI que o casal recebe será cortado e, para Carla Santos, o 9º ano que entretanto completou, os cursos de inglês e de informática que entretanto fez, não têm chegado para nada. Os catálogos de moda que Luana fez talvez sejam apenas isso, catálogos amontoados que se apagam com o tempo. Ou talvez não.
Mariana Correia Pinto Jornal Público