sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Albano Jerónimo/TN21
Um libreto para ficarem em casa seus anormais
Texto: João Arezes
Fotos: Paulo Pimenta

Operáticos Revolucionários,Uni-vos!

Auditório do Campo Alegre acolhe “Um Libreto para Ficarem em Casa Seus Anormais”


É uma intersecção de monta aquela em que Albano Jerónimo aposta para o espectáculo “Um Liberto para Ficarem em Casa Seus Anormais”: cruza o trabalho de um criador fecundo, com múltiplas diatribes em cena que se pautam por fugir à toada normativa, basta recordar-nos de 4, em 2015, no Rivoli, no Porto, em que galinhas passeavam com sapatilhas de marca no palco e os intérpretes mergulhavam num sabão gigante. Sim, falamos do argentino Rodrigo García, há muito radicado em Espanha, à qual se adiciona a narrativa inspiradora do famoso realizador alemão Werner Herzog, neste caso tendo como fonte tributária do imaginário presente em “Fitzcarraldo: história de um alemão melómano”, a incontornável película interpretada por Klaus Kinski, em que o protagonista encarna o papel de um obstinado e abastado alemão cujo sonho é construir uma ópera na amazónia peruana, com recurso a uma empresa de exploração de borracha que gera as receitas necessárias à materialização do sonho. Partindo deste guião amalgamado, a companhia teatronacional 21 encontra um filão criativo, mas não fica refém do mesmo e concebe a sua própria narrativa ficcional, a transposição do enredo para Portugal é uma meritória adaptação do actor e encenador e da sua equipa artística. Fitzcarraldo é assim encarnado por Albano Jerónimo na senda da construção da ópera em território lusitano. A pedagogia passa assim pelo ensino do mestre aos seus músicos aprendizes da cartilha de princípios revolucionários. O que preside a esta intenção é a concretização do seu sonho de melómano, da perseguição da utopia, e, por outro lado, o incentivo à revolução face à classe política nacional, como resultado do estímulo causado pelo “maestro”. Vítor Rua é o músico ao serviço do propósito da peça. Nesta obra espelham-se os artifícios, disfarces e falsidades morais e sociais e abana-se a estrutura dos clichés por via de uma actuação mais radical. A trupe da Companhia Crinabel estará integrada na orquestra. Estará em cena no Auditório do Campo Alegre, no Porto, hoje, dia 9 de Fevereiro, sexta-feira, às 21h30. Amanhã, sábado, dia 10, o espectáculo decorre às 19h00.
João Fernando Arezes